Relato de Augusto Barros sobre a descida de rio

21-07-2011 12:23
Muitas pessoas acreditam piamente na capacidade de ditarmos os rumos do que fazemos, de planejar corretamente e cartesianamente nossos projetos, de ter o controle absoluto, irrestrito das direções a serem tomadas; outros menos céticos já adoram praticar e cultuar o improviso, largando nas mãos do futuro ou do divino o que irá acontecer, sem muitas preocupações de ordem maior, dando forma aos versos ecoados por sambistas cachaceiros que pregam que é a vida que nos leva, e assim devemos deixar.
 
Geralmente, os praticantes dessas duas vertentes acabam não tendo muita paciência uns com os outros. Às vezes até pode ocorrer o contrário, vide o número de casais "nada a ver um com o outro" que conheço. Enfim, não irei aqui discutir qual das duas maneiras é (seria?) a mais correta, justa ou o escambau. Apenas gostaria de jogar no ar a seguinte premissa: e se em um dia da sua vida - melhor, apenas algumas horas de um dia! - você tivesse a capacidade de experimentar essas duas sensações se entrelaçando o tempo inteiro, invertendo-se mutuamente a cada instante, com cada uma aparecendo em situações onde a outra seria mais útil naquele determinado momento, como se brincassem de pique-esconde?
 
Como você se sentiria?
 
Bom, posso responder no ato: eu ADOREI, tanto que já estou ansioso aguardando pela próxima vez onde, espero, consiga mesclar novamente dois sentimentos tão díspares em um curto espaço de tempo.
 
E a que me refiro?! À maravilhosa descida de caiaque pelos Rios Paranoá e São Bartolomeu que fiz no último domingo (17/07), muito bem acompanhado em todos os sentidos, tanto pela companhia ao lado (no caso, ora na frente, ora na parte de trás do caiaque duplo) quanto pela belíssima paisagem de mata ciliar serpenteada pelos límpidos rios durante todos os 17 km do percurso.
 
É, amigos, irei até escrever por extenso: dezessete quilômetros!!! Quando estamos no carro, isso passa muito rápido pelo odômetro, sequer percebemos. Agora, dentro de uma estrutura de fibra de vidro, tendo que remar para fazer as sinuosas curvas, pareceu uma eternidade.
 
Uma eternidade muito gostosa, assim posso dizer, como também afirmo que a minha experiência com caiaques contou muito. Eu já era expert no ofício de não saber absolutamente NADA sobre caiaques, nem como me posicionar sentado nos barcos, muito menos como firmar os pés para que os movimentos da remada poupassem esforço dos braços para que o abdomen trabalhasse, sequer como empunhar um remo e, principalmente, quiçá como CONTROLAR o barco!

E assim me arrisquei, aproveitando toda a estrutura montada pela equipe da Caiaque Point, desde a chegada à Fazenda Taboquinha (região dos condomínios do Lago Sul), passando pelo trajeto realizado pela van até o momento das instruções, sem esquecer das normas de segurança até chegar ao primeiro momento-chave do dia: a entrada na água, a interação com aquela força da natureza impressionante e a certeza de que a partir dali, não teria mais volta, começando a passar nas próximas quase três horas pelas sensações descritas aí no começo do texto.
 
O rio é tranquilo, a correnteza é branda e faz com que você consiga apreciar o santuário (a mata, pelo menos para mim e para a minha fé, será sempre um santuário!) em todas as suas formas, nos diversos tons de verde das árvores, nos troncos retorcidos e raízes de desenhos diferentes nas margens, no canto dos lindos pássaros que parecem querer dizer algo a você (somente depois pude perceber que o quê aquele pardal tentava me dizer era "cuidado com o tronco, rapaz!", mas isso contarei mais à frente), o sol que teima em desaparecer justamente naqueles momentos onde o pouco frio resolve dar as caras...enfim, cada qual que descreva a situação como bem quiser, estar em contato com a natureza é e sempre será algo mágico, algo que transcende toda sensação ruim que eu porventura possa sentir enquanto estou travestido de urbanóide, utilizando indumentárias como terno e gravata e sapatos apertados.
 
Na natureza não há tempo para pensamentos esquisitos e muito menos guarida para sentimentos ruins.
 
A alternância de exercício físico nível médio - afinal, você tem que remar, né? - com o se deixar levar pelas águas do rio foi uma sensação das mais gostosas que senti nos últimos tempos.
 
E nem o encontro mais incisivo (poderia adjetivar de outras formas, mas quem sou eu para assustar os demais!) com elementos da natureza, como as duas colisões que tive com troncos no meio do caminho, sendo a segunda digna de "alguém anotou a placa do caminhão?" me deixou preocupado, porque estava ciente que sairia dali mais leve, renovado, reconstruído, e que o único problema que teria seria estar em débito com a propalada atividade física regular, mas nada que um portentoso relaxante muscular não resolvesse mais à noite.
 
Enfim, obrigado ao grande cunhado Flávio pelo convite, por proporcionar um dia tão especial; valeu, Carrijo, pela aula particular mais do que providencial enquanto eu apanhava e exercia meu eletromagnetismo com a margem do rio; obrigado à Diana também pela atenção!
 
Mas não poderia encerrar sem falar que a prática da canoagem é, pelo menos para os casais, (uma terapia? Não, muito pouco....) um caleidoscópio onde você pode enxergar coisas impressionantes!
 
Acredito que, caso vocês passem pelo evento incólumes, sem gritar, berrar, espernear, reclamar um com o outro ou mesmo irritar-se com algumas decisões e manobras...bem...pode até mesmo não ter um padre abençoando a união de vocês, mas certamente a natureza estará dando a deixa para que novas e importantes ações aconteçam na vida de vocês!
 
Querem "padre" melhor?
 

Augusto Barros, 36, é o mais novo canoísta amador do Distrito Federal!!!! Bom, pelo menos tentará ser, né? Animaram também?